Durante muito tempo, juro que
prometi à mim mesma que jamais iria começar um texto sobre amor, porque eu
sabia que tudo um dia se tornaria monótono, e eles iriam parar na minha
lixeira. O problema é que agora eu estou na lixeira, em um lugar tão fundo, mas
tão fundo, que pequena do jeito que sou, jamais conseguirei sair.
Tentei centralizar meus sentimentos com muita cautela, tentando deixar
tudo definido, nos mínimos detalhes, como cimento e concreto, sem que ninguém
pudesse invadi-los, sem que ninguém pudesse aplicar uma capsula com encantos
que me fizesse entrar em hipnose e perder a razão de ser a verdadeira eu. O
cimento ainda estava fresco, portanto, não lembro exatamente quando ele sumiu –
na verdade, em um piscar de olhos – empurrando junto a minha sanidade. Só
lembro que, de repente, ouvi de fundo, uma música agradável tocar, e por ser
uma banda que eu conhecia, decidi correr atrás da melodia, que a princípio, me
aparentava ser calma. Hoje, lembrei-me de uns cálculos, que sem perceber, até
hoje existem em forma de incógnitas, e bem...
Acho que no meio dos meus cálculos, ignorei alguns números, acabei
subtraindo-os, e o resultado é agora somente o que restou de mim. Não mais
encantada. Como qualquer droga, seu efeito foi completamente passageiro, assim
como o concreto sumiu, o efeito passou, e com a força do vento caí no chão,
chorando. E não me pergunte. Eu nem sei por quê. Dessa vez, caí lúcida,
sentindo em cada parte da pele a dor lacerante de ser um mísero ponto de
interrogação. De 'me sentir' um ponto de interrogação.
Eram seis da tarde, e ao me lembrar de que quase sete, me dei conta de
que dia é hoje, e não decidi comemorar sozinha como fiz antes, deixei a
vergonha lá no fundão da minha gaveta secreta, onde guardei todas aquelas
lembranças. Na época, um pouco antes das seis, eu ainda estava com os pés no
chão, hesitando usar uma espécie de sapato que estava à minha frente. Pobre
garota, ainda inocente, alheia ao mundo escuro de perder-se em sua própria
solidão, acreditando que naquele vazio existiria alguém. Ele me faria voar para
bem distante, e não só do chão em si.
Aqui termino minha curta mensagem, rica em perguntas e mistérios que
acredito eu, ninguém terá vontade de decifrar, pois acho desnecessário esbaldar
de linhas aquilo que não existe, que é só um maldito ponto de interrogação,
algo em que a recíproca jamais teve o prazer de ser verdadeira. Só posso dizer
que sou exatamente o que sente pela pessoa que deseja, mas não na parte de amar
em si. Ainda, infelizmente, consegui terminar concretizar as partes ruins.
Amor. Essa arte ainda não conheci. Ou seja, esse grande afeto que ocupa todas
as partes de meu peito não tem definição. Mas, espere... Não é possível
finalizar isso aqui sem mencionar - e mentalizar, mas mentalizar muito, de um
jeito que aperta cada partezinha do corpo, com evidência no coração e nos olhos
- o restinho que você deixou em mim.
Basicamente, definindo em termos "traduzíveis" para mim (como
sempre, só para mim e mais ninguém), aquele poema que não existem rimas para
concluir, aquela crônica lírica na qual os sentimentos não se aplicam. Que em
cada entrelinha há uma incógnita, que ninguém soube responder. Aquela que não
tem final, assim como essa. O garoto que virou trilha sonora das minhas noites
de insônia, alguém que eu sinto estar cada vez mais longe. A flor mais bela do
jardim, mas a famosa "não é flor que se cheire". Ah, é verdade, eu me
esqueci: as flores também murcham.
Durante tanto tempo presenciei sua fase murcha... Pelo menos eu achava, hoje, já acho que nem isso tive
o prazer de presenciar. Sabe, aqui dentro eu sentia que queria curá-lo, que
queria aninhá-lo em meus braços e dizer que iria ficar tudo bem. Arrancaram-se
os curativos daquela flor, eu tentava arrancar os meus, mas eles sempre foram
recusados... E daí, os meus curativos foram arrancados, arrancados, arrancados
de uma forma tão bruta que meu coração se tornou um vazio, e quando abri os
olhos, estava abraçando o nada. Aliás,
com uma tela de computador aberta no nada.
É um livro que eu sofro todos os dias por não ter a oportunidade de ler.
Eu já tentei... juro. Fiquei
horas na estação esperando o trem que eu queria, mas ele não veio. Ouvi
opiniões alheias, dizendo com pena que era melhor pegar o outro. Pois assim
fiz, não por querer, e sim por achar necessário. Um pé na porta, e o outro
atrás. É perceptível que a força do vento me empurrou para os trilhos, e lá eu
fiquei chorando, durante horas, dias, semanas... E hoje, mais um mês. Eu sei
que a qualquer hora outro trem vai me esmagar mais ainda, mas eu não me
importo, afinal, nem sei direito o que sou. E não, eu não estou sofrendo
estupidamente, cara! Mas eu não tô feliz pra caralho como aparento! Eu tô
quieta, na minha, aguardando a oportunidade de eu poder refazer minha massa e
meu concreto. Por isso é inexplicável.
Essa parte sobre o que você deixara é extensa, não acha? Eu não acho. É
resumo. O resumo mais medíocre que já escrevi. A coisa mais miserável que já
formulei. O texto mais crápula que um ser humano pode escrever. Um monte de
perguntas, que se eu fosse o leitor sentiria nojo. Mas eu não vou reler, vou
deixar assim como está, no frescor da porcaria dos meus sentimentos. Isso não
pode ser chamado de sentimento, aliás. Qualquer um diria que é uma garota tola,
sofrendo pelo leite derramado - já seco. Agora pode acreditar que sou o que
escrevo.
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